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O vício das redes sociais pode ser bastante limitador da capacidade para fazermos outras atividades importantes para o nosso bem-estar físico e psicológico, diminuindo, por exemplo, a nossa convivência com amigos, familiares e colegas.
Já te falámos de algumas maneiras de seres apanhado nas redes sociais:
- A publicar conteúdos fora de contexto e para pessoas que não era suposto.
- A julgar como verdadeiros conteúdos falsos e até a replicar esses mesmos conteúdos.
- A ter acesso apenas a uma visão parcial da realidade, moldada pelos algoritmos das redes sociais.
- A veres os teus dados intercetados por hackers sem o teu consentimento.
Uma quinta maneira é a possibilidade de ficares dependente das redes sociais.
A primeira pergunta que te deves colocar a ti e aos teus amigos é se alguém se pode tornar viciado nas redes sociais. Falou-se de várias vantagens da utilização das redes sociais, mas, como é costume dizer-se, tudo o que é demais faz mal.
Devemos estar sempre atentos e perceber até que ponto as redes sociais estão a ser benéficas ou prejudiciais para nós. Cada vez mais pessoas passam muitas horas nos computadores ou telemóveis, no Facebook ou noutras redes sociais. E quando não estão lá, estão a pensar que gostariam de estar.
E, se nas redes sociais estivermos a conviver com amigos, com colegas, com a família ou até a trabalhar ou a estudar? Será que é mau?

O que se quer dizer quando se diz que se é viciado nas redes sociais?
Parece uma questão bastante simples, mas na verdade é uma pergunta difícil, para a qual os investigadores não têm uma resposta consensual. Como já vimos as redes sociais são de vários tipos. Para além do LinkedIn usada por muitos profissionais, há redes para investigadores como a Academia ou a Sermo onde, por exemplo, os investigadores e médicos partilham textos científicos ou partilham casos clínicos para melhor poderem exercer as suas atividades. Estas são redes sociais que, tal como o Facebook, permitem às pessoas filiarem-se em grupos com os mesmos interesses, as mesmas regras de participação e os mesmo valores. Estas plataformas permitem mais formas para a criação de laços fortes de confiança, favorecendo a colaboração nos mais variados assuntos e possibilitando a resolução de problemas que seriam impossíveis de tratar de forma isolada.
As redes sociais em linha são uma parte integrante e fundamental da nossa cultura.
A chamada cultura participativa
As redes sociais são, assim, uma espécie de cimento de uma cultura participativa onde a contribuição de cada um concorre para um todo.
Cultura participativa é o termo usado para nos referirmos à cultura onde as pessoas têm um papel ativo na produção do conhecimento e na divulgação da informação. Esta cultura, assumida como emergente por vários autores, está associada ao desenvolvimento da chamada Web 2.0 e à rede em geral como instrumento de mobilização política, social e cultural. A utilização das redes sociais em linha é a forma de interação e comunicação preponderante neste tipo de cultura, possibilitando o contacto de muitos para muitos. Esta forma de comunicação contrasta com a dos media tradicionais, onde predomina a lógica do controle da informação por alguns e a divulgação de um para muitos. Na página de EXPLORAR podes aceder a mais informação sobre a cultura participativa. Podes, ainda, consultar o módulo Ser cidadão digital e explorar os diferentes recursos aí disponibilizados.
Mas o que tem isto a ver com o ser ou não ser viciado?
Tem tudo a ver. Se, de facto, estamos na rede e nos nossos dispositivos a contribuir para melhorar o nosso desempenho profissional e académico, para estar mais perto de amigos ou mesmo para agilizar o convívio social fora do universo digital, podemos estar a ter um comportamento positivo.

Alguns investigadores da área afirmam que não podemos culpar as plataformas das redes sociais, a Internet ou os dispositivos para a elas acedermos. No seu entender, não passam de meios de acesso a algum tipo de satisfação.
Os utilizadores da Internet são tão adictos à Internet como os alcoólicos são adictos às garrafas.
(Tradução livre de Min Gyu Kim e Joohan Kim, 2010, de que poderás encontrar em EXPLORAR a referência completa).
Estes dois investigadores dizem-nos claramente que assim como não podemos culpar as garrafas pelo alcoolismo, não podemos culpar a Internet pela dependência de estar sempre em linha.A caricatura da famosa pirâmide de Maslow, com a atualização da base da pirâmide assente na rede sem fios e na bateria, chama exatamente a atenção para a situação de desconforto e quase pânico em que ficam algumas pessoas, quando não têm condições para estarem em linha.
Estar em linha é importante pois permite-nos ter acesso a patamares superiores mas nunca anteriores às necessidades fisiológicas.
As redes sociais tanto podem ser um meio para comportamentos aditivos prejudiciais, como para relações sociais fundamentais para o nosso bem-estar.

A imersão
Um dos problemas das redes sociais é serem tão absorventes que não conseguimos fazer outras atividades ou sequer pensar em mais nada. Nesse caso, diz-se que estamos imersos, completamente mergulhados num meio onde nos isolámos do resto do mundo.
Claro que não são só as redes sociais que nos podem fazer alhear da realidade à nossa volta. Há várias situações em que podemos igualmente dizer que estamos imersos. Por exemplo, nas melhores partes dos filmes, nem precisamos de estar numa sala escura, como no cinema, para não vermos mais nada para além do que se passa no ecrã. Quando estamos a jogar um jogo de computador, nem precisamos de ter os auscultadores para não ouvirmos o que está a dar na televisão ou o que estão a conversar mesmo ao nosso lado.
A consciência é fundamental
Quando estamos nas redes sociais temos a ilusão de estarmos em permanente conexão, isto é, ligados a tudo e a todos os que interessam. O principal problema do vício das redes sociais reside exatamente nessa imersão permanente sem a consciência de se estar alheado de tudo o resto. É a consciência dos riscos e dos comportamentos associados às redes sociais que permite que te autorregules.
Formas de te autorregulares podem incluir:
- a limitação do tempo que passas em linha;
- a manutenção de outras formas de convívio social;
- a consulta de outras fontes de informação;
- o desenvolvimento de atividades ao ar livre;
- estadias em ambientes naturais onde não tenhas acesso à rede.
Não convém esquecer que a maior parte do mundo ainda está para além das redes sociais.
O multitasking
Um outro aspeto importante a ter em conta é que, quando estamos nas redes sociais, podemos não estar a fazer uma só coisa. Quantas vezes não estamos em duas ou três redes sociais ao mesmo tempo, numa sala de conversação e estamos ainda a ouvir música ou a jogar um jogo? Alguns investigadores argumentam que, nesses casos, não estamos a fazer nenhuma das coisas a 100%, outros afirmam o contrário e dizem que até pode ser treinada a capacidade de realizar multitarefas (multitasking, em inglês).
O jogo
Aquele que é considerado um dos maiores vícios de comportamento, este sim, tido e diagnosticado como doença, é o vício do jogo. Não se trata de quaisquer jogos. São os jogos a dinheiro ou de apostas. Se alguns jogos já são suficientemente viciantes, os jogos a dinheiro podem adquirir proporções auto e heterodestrutivas.
Mas os jogos, mesmo sem serem de apostas, quando aliados a mecanismos das redes sociais, também se podem tornar bastante viciantes. Muitos jogos disponíveis nas redes sociais (como o Farmville, o Word Challenge ou o Mafia Wars) podem pedir-te dinheiro para evoluíres no jogo mais rapidamente, o que, sendo desagradável, muitas vezes pode ser um atalho fácil para passares à frente dos teus amigos ou rivais. As primeiras compras podem ser só o início de uma espiral em que vão acabar por te pedir mais dinheiro para que não percas o ritmo…

Esta é uma das características dos jogos mais explorada nas redes sociais. O utilizador não compra o jogo de uma vez, vai-o antes comprando à medida que se entusiasma. Ao jogarmos com amigos estamos muitas vezes a criar ligações fortes, pois passamos horas a partilhar estratégias de jogo ou um mesmo mundo virtual com eles. Como em qualquer grupo das redes sociais, temos de respeitar as mesmas regras e lutar pelos mesmos objetivos, o que pode tornar-se bastante envolvente. Muitos jogos em linha têm este lado positivo: permitem desenvolver capacidades de coordenação em equipa, de negociação e de comunicação.
Quanto mais horas estiveres nas redes sociais, ou nos jogos, maior é o risco de perderes o contacto com amigos que não estejam nas redes sociais ou que não gostem dos teus jogos.