APRENDER
Media tradicionais como a televisão, a rádio e os jornais continuam a existir no suporte convencional, mas desenvolveram também os seus formatos digitais, contribuindo para o crescimento exponencial da presença dos media na sociedade em rede, marcada pela evolução da Internet e dos equipamentos de acesso, sobretudo móveis (smartphones, tablets,…). Mas a diversidade de media e de títulos não se traduz diretamente em maior pluralidade de informação, pois assistimos hoje à concentração de muitos media numa mesma empresa.
Uma questão que se impõe: Quem manda nos media?
Este fenómeno da concentração é, em grande parte, resultado da crise do modelo de negócio dos media tradicionais (jornais, rádio e televisão), que viram o seu poder esbater-se com a evolução da rede, com perda de audiências e receitas publicitárias nos canais tradicionais, o que conduziu à aposta na informação em linha. Mas esta alteração não compensou a perda de receitas. Em ambiente digital é difícil fidelizar audiências e é ainda mais difícil levar os consumidores a pagar pela informação, pois generalizou-se a ideia de que a informação é gratuita.

Como a produção de informação tem custos associados que as empresas têm cada vez mais dificuldade em suportar, as soluções encontradas centram-se no corte de custos, na fusão de empresas e até na concentração de diferentes media num mesmo grupo empresarial privado. Colocam-se assim questões em termos de qualidade e pluralidade da informação, pois os interesses de grupos privados podem não coincidir com o interesse público.
Europa
Na Europa existe a tendência histórica de os estados oferecerem um serviço público de informação, como acontece com a Rádio e Televisão de Portugal (RTP). Já ao nível dos media privados, apesar de existirem leis nacionais e até europeias para impedir e regular a concentração de media num mesmo grupo empresarial, essa tendência é já uma realidade, sendo exemplos os seguintes grupos:
AxelSpringer
É o líder da edição digital na Europa e opera em mais de 40 países. Detém a propriedade de 157 títulos de media, em suportes tradicionais e digitais, sendo os mais conhecidos os jornais germânicos Bild e Die Welt. Cerca de 80% dos títulos são de circulação paga, sendo os restantes apenas suportados pela publicidade e/ou pequenos anúncios (classificados).
Opera em 50 países, inclui o grupo RTL, as editoras Penguin Random House (livros), a Gruner+Jahr (revistas) e a BMG (música), além de outros negócios em áreas como as tecnologias, impressão gráfica, educação e capital de risco.
Fininvest/ Mediaset
Um dos líderes mundiais na área dos media e do entretenimento. Controla o mercado televisivo em Itália e em Espanha, duas agências de publicidade (uma com sede em Londres), a editora Mondadori (líder do mercado de revistas), o clube de futebol AC Milan, o Teatro Manzoni e o Banco Mediolanum.
Portugal
Em Portugal verifica-se também uma tendência para a concentração, pois um reduzido conjunto de empresas domina quase toda a comunicação social:
Controla o diário Correio da Manhã, além de jornais como o Record, Destak, Metro e Jornal de Negócios. Publica várias revistas, nomeadamente a Sábado, a Máxima, a TVGuia, a Flash e a Vogue. Tem ainda o canal de televisão por cabo CMTV.
Detém a rádio TSF, os jornais nacionais Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Dinheiro Vivo, o desportivo O Jogo e os regionais Açoriano Oriental e DN Madeira. Edita sete revistas: Açores, Delas, Evasões, MAIS, JN História, Notícias Magazine e Volta ao Mundo.
Proprietário dos canais SIC, SIC Notícias, SIC Internacional, SIC Caras, SIC K, SIC Radical e SIC Mulher. Além do semanário Expresso, detém ainda o Blitz.
Detém os canais TVI, TVI24, TVI Ficção, TVI Reality, TVI África e a TVI Internacional. Controla o grupo de rádios MCR, que inclui a Rádio Comercial, a M80, a Rádio Cidade, a SmoothFM e a VodafoneFM. Opera ainda portal IOL.
Empresa do grupo Sonae que controla a tecnológica NOS e o diário Público.
Recentemente criado, o grupo é proprietário da Activa, Caras Decoração, Courrier Internacional, Exame, Exame Informática, Jornal de Letras, Telenovelas, TV Mais, Visão, Visão História, Visão Júnior e Visão Saúde.

Independentemente da sua propriedade, os media estão sujeitos à regulação por parte do Estado e a regras deontológicas, mas não estão obrigados às regras do serviço público, pelo que podem seguir determinadas agendas que são ditadas sobretudo pelos seus proprietários. Está atento a esta realidade, procura informar-te em diferentes órgãos, de diferentes proprietários, para teres acesso a diferentes perspetivas em relação aos factos que te interessam, incluindo a de órgãos alternativos, sejam eles de organizações não-governamentais (ONG) ou financiados pelos consumidores.
O Reuters Institute of Journalism estima que muitos jornais de referência irão perder importância ou desaparecer nos próximos anos, enquanto as televisões de serviço público irão perder legitimidade e audiências, sobretudo as mais jovens. A Buzzfeed, a Vox ou a Business Insider irão ocupar o campo mediático hoje tomado por media como a CNN ou a BBC, enquanto plataformas como o Facebook, o Snapchat ou a Apple News terão uma importância crescente. Está atento à mudança!