APRENDER
A tua visão do mundo é influenciada pela realidade criada pelos media, pois todas as mensagens dos media são representações ou aproximações do real, cuja fronteira não é muitas vezes percetível.
Em 1964 estreou nos Estados Unidos da América o Gilligan’s Island, um programa de entretenimento televisivo no qual sete concorrentes viviam numa ilha deserta do Pacífico, à qual teriam chegado, de acordo com o enredo do programa, na sequência de um naufrágio.
Após a emissão de seis episódios, a Guarda Costeira contactou a produção do programa, garantindo ter recebido dezenas de telegramas de pessoas que pediam aos militares que enviassem um barco à ilha para salvar os concorrentes. As pessoas confundiram a realidade com a realidade criada pelos media (ficção), não tendo em conta, por exemplo, quem estava lá a filmar os concorrentes, toda a equipa de produção e a logística.

O americano James Potter considera que a realidade criada pelos media tem várias dimensões, pelo que deve ser questionada de diferentes ângulos. Porém, as pessoas questionam os conteúdos sobretudo através de um ângulo: Será que isto podia acontecer, ou não?. Essa análise básica e limitada leva-as a sobrestimar a realidade criada pelos media, a dos programas de televisão, dos filmes e até das notícias. Sabendo disso, os produtores estruturam os conteúdos media de forma a manterem uma elevada ligação com a realidade, embora estejam sempre um passo, maior ou menor, além da realidade. E é esse passo para fora da realidade que a transforma e que a torna mais atrativa para as audiências.
Ver imagens com olhos de ver implica questionar essas imagens.

Aparentemente, estes conteúdos media enganam as pessoas, pois cada vez se torna mais difícil distinguir neles realidade. Mas, na verdade, esses conteúdos são muito importantes. Os media permitem-nos ter uma visão do mundo, da sua história, das suas culturas, dos acontecimentos, dos avanços tecnológicos e científicos. Fazem-no através de um conjunto de suportes, sendo a imagem em movimento o mais consumido. Por isso, em lugar de rejeitares a realidade dos media, o que importa é seres capaz de interagir com os seus conteúdos, assumindo uma posição crítica e reflexiva, de modo a desenvolveres em contínuo a tua visão do mundo.
Como o podes fazer?
Quando vês um filme, assistes a um documentário ou a um vídeo, questiona esses conteúdos e procura responder a questões como as seguintes:
- Como seria determinada cena se a câmara estivesse noutro ângulo, ou se as imagens seguissem outra sequência?
- Como é que eu interpretaria esta cena se ela incluísse outra música, outros efeitos sonoros, ou outros silêncios?
- Por que razão determinada cena tem uma direção maior que outras cenas?
- Este conteúdo foi produzido para cinema, para televisão ou para a Internet?
- É facto ou ficção?
- A quem se dirige?
- Quem o produziu e porquê?
- Como foi promovido junto do público?
- Que resposta lhe deu o público?
A análise de imagens em movimento é apenas uma parte do que te pode interessar. Hoje é fácil produzir conteúdos vídeo com um simples telemóvel. Existem diferentes aplicações que te ajudam a editar esses vídeos, plataformas (o YouTube e o Vimeo, por exemplo) e redes sociais em linha, como o Facebook e muitas outras, para poderes publicá-los. Importa, por isso, que o saibas fazer com qualidade, de forma a comunicares através de imagem em movimento, alcançando as audiências que pretendes e atraindo a sua atenção.

Saber analisar e produzir conteúdos media de imagem em movimento é hoje considerado tão importante como saber ler texto. Em 2013, o British Film Institute investiu milhões de euros num programa que visa desenvolver competências de análise e produção de imagem em movimento por crianças e jovens, dos 5 aos 19 anos. Trata-se de um exemplo seguido noutros países, como a Austrália, o Canadá e Portugal (através do Plano Nacional de Cinema).
Ainda em Portugal, há várias entidades que trabalham nesta área da educação para a leitura da imagem em movimento, de que são exemplos a Associação de Investigadores da Imagem em Movimento (AIM), o Cine Clube de Faro ou a associação Os filhos de Lumière, em Lisboa.
