APRENDER
Ao publicar uma edição do jornal sem imagens, em 14 de novembro de 2013, o diário francês Libération alertou para o papel informativo destes órgãos noticiosos, mas também para a situação dos fotojornalistas, que arriscam muitas vezes a vida em teatros de guerra e outros locais perigosos, mas cujos salários não correspondem ao risco que correm.

Na edição do dia anterior, a jornalista Brigitte Ollier escrevia que, ao olhar os espaços brancos no lugar das fotografias era notória a sensação de vazio, de falta de informação, como se o jornal tivesse ficado mudo. Faltava a linguagem das imagens, que é essencial à compreensão.
A 8 de setembro de 2015, o diário alemão Bild (cujo nome significa imagem) decidiu seguir o exemplo do Libération e publicou uma edição sem imagens, quer na edição impressa quer na edição em linha, tendo apostado no título É quando já não as vemos que compreendemos a sua magia: o poder das imagens.

Nem todas as imagens têm, porém, o mesmo valor ou função. O investigador francês André Gunthert distingue entre fotografia de ilustração e fotografia documental ou de informação. A primeira é feita com um objetivo prévio e admite ser retocada ou alvo de fotomontagem. A segunda é um documento autêntico, o resultado de um instante, que vale por si e recusa toda a manipulação. Num exemplo simplista, a fotografia de ilustração pode ser a de um banco de imagens, pelo que vale por si. A fotografia documental pode ser a de um instante eternizado num palco de guerra. Ambas são valor acrescentado ao texto. Uma vale como ilustração e serve de complemento, a outra acrescenta informação com valor equivalente ao do texto.

Segundo André Gunthert, os jornais (e as revistas), mesmo os diários, e sobretudos os que são publicados em linha, usam cada vez mais a fotografia de ilustração. E usam fotografias que falam por si, mas de arquivo, fora de contexto, para ilustrar textos. Assim, uma mesma fotografia poderá ter diferentes leituras, em diferentes media, em função do sentido do texto, ou seja, uma imagem pode ser usada com distintos objetivos de utilização ou manipulação de informação.
Contudo, a manipulação de informação gráfica não ocorre apenas a este nível. As próprias imagens, que os media pretendem que o público encare como instantes não questionáveis da realidade, não só podem como devem ser postas em causa. Existem exemplos históricos e recentes de manipulação de imagens em fotojornalismo Photo Tampering throughout History), algo cuja probalidade de suceder foi incrementada com o avanço tecnológico, com programas informáticos que permitem alterar as imagens e, assim, as interpretações que o público é levado a fazer.
As imagens não só podem como devem ser postas em causa.
Distinguir facto de ficção é uma das competências-chave dos cidadãos.
Deves, por isso, procurar conhecer as técnicas de produção usadas, o contexto em que a imagem foi produzida e qual o seu objetivo, para poderes compreendê-la, para detetares as encenações criadas pelos media. O especialista americano Todd Finley propõe vários métodos para o fazeres, sendo que todos eles passam por interrogares a imagem e procurares respostas.
Essa é uma forma de desenvolveres a tua literacia visual, ou seja, a tua capacidade de interpretar imagens mas também de produzires imagens, que te permitam comunicar eficazmente uma mensagem a uma audiência. As imagens são hoje a forma predominante de comunicação e a tua capacidade crítica para as interrogares, seja quando as analisas ou quando as produzes, é uma competência fundamental dos cidadãos do século XXI, que vivem na cultura da imagem.