APRENDER
Um jovem jornalista publicou 41 reportagens numa revista de referência americana, que lhe valeram reconhecimento e uma ascensão tão fulgurante quanto a queda que se seguiu, após ter sido provado que 27 das 41 reportagens se baseavam em factos deturpados ou inventados.
A história, baseada em factos reais, é contada no filme Verdade ou Mentira (Shattered Glass, de 2003, realizado por Billy Ray) e mostra como os editores da revista não detetaram a fraude, a não ser depois de um jornalista de uma revista concorrente ter seguido o tema de uma das reportagens, não tendo encontrado qualquer das fontes citadas no artigo. Este caso afetou profundamente a credibilidade da revista, a qual é fundamental para manter audiências.
A confirmação da informação através de várias fontes é também fundamental para o jornalismo.

Mas os erros acontecem
Em fevereiro de 2015, a Agence France Presse anunciou a morte do empresário francês Martin Bouygues, o que não era verdade.
A 10 de junho de 2005, a Agência Lusa noticiou que um grupo de 500 jovens tinha roubado e agredido banhistas na Praia de Carcavelos. A história, que passaria a ser conhecida como arrastão (nome dado a este tipo de ação violenta no Brasil), abriu os telejornais, com fotografias, testemunhos de polícias, de políticos e de uma testemunha ocular, tendo gerado uma onda noticiosa em televisões, jornais e rádios, que se manteve ao longo de duas semanas.
Houve espaço para discutir segurança, emigração, racismo e bairros problemáticos, mas não para confirmar os factos. Na verdade, o arrastão não ocorreu, como mostrou a investigação da jornalista Diana Andringa, no documentário Era uma vez o arrastão (1 de julho de 2005).

Em 2010 cumpriram-se nove anos do ataque ao World Trade Center (WTC), em Nova Iorque, em que morreram mais de 3000 pessoas. Nesse ano foi aprovada a construção de um centro islâmico (com comércio, restauração e espaço de culto) num prédio localizado a dois quarteirões do antigo WTC. A Associated Press, uma das agências noticiosas mais respeitadas, referiu-se ao projeto como Mesquita no Ground Zero (Ground Zero Mosque) e foi seguida pelos media de todo o mundo.

Ora, não era uma mesquita, não estava no local do antigo WTC, ao qual também não fazia sentido chamar Ground Zero (nome dado às zonas de Hiroshima e Nagasaki destruídas pelas bombas atómicas de 1945). Um estudo da Organização das Nações Unidas concluiu que os media internacionais contaram a história através das lentes dos media americanos.
Outros estudos (referidos em EXPLORAR) mostram que os media não refletem a sociedade, pois três quartos das notícias publicadas na Europa têm homens, brancos e acima de 40 anos, como protagonistas. As mulheres representam metade da população europeia mas apenas figuram em cerca de um quarto das notícias. Os portadores de deficiência ocupam sobretudo papéis secundários nas notícias e quase sempre acerca de assuntos relacionados com deficiência. Também se verifica uma segregação geográfica, pois África está sub-representada nos media internacionais.

Podes assim compreender que os media não são uma janela para a realidade e que as notícias são construções da realidade feitas por jornalistas com determinados conhecimentos e meios à sua disposição. As notícias e outras mensagens dos media devem ser encaradas com um ceticismo saudável, ou seja, devem ser analisadas de forma crítica e comparadas com as de outros media. Cada notícia deve ser lida tendo em conta cinco princípios e procurando responder a cinco questões desenvolvidas pelo Center of Media Literacy, nos Estados Unidos da América.

Os media não são uma janela para a realidade…
Se colocares as questões às notícias ou outros conteúdos media que te interessam e lhes procurares responder, poderás perceber melhor os critérios que levam os jornalistas a privilegiar um determinado facto em detrimento de outro. Sobretudo se tiveres em conta que esses critérios são hoje influenciados pelos detentores dos media e orientadores da linha editorial, pelos jornalistas e pelo público. Estas questões podem ser aplicadas a conteúdos de quaisquer media, sejam eles tradicionais ou digitais.